segunda-feira, 9 de março de 2015

Homengodo

Era do tipo que enfiava o cabelo na pia e forjava um bem tomado banho. Um dissimulado! Comentava a temperatura da água, a mudança de sabonete para um mais áspero e ainda esboçava preocupação que este viesse a lhe causar uma alergia generalizada:

 - Ta vendo? Acho que já começou.

E apontava para uma picada de mosquito que ali estava fazia mais de uma semana.

Um dia me apareceu com um sanduíche.

 - Olha, amor! Eu cozinhei pra você. Desde então passou a se declarar Chef em todos os meios sociais que frequentávamos.

 - Não é, amor? - Ele perguntava para reforçar o seu discurso. Quem sabe uma testemunha ocular, enfim, afrouxasse a resistência de seu desconfiado público.

 - Claro que sim! - Sempre era. Nunca deixei de compactuar com suas fantasias.

 Ele tinha mania de linguagem culta. Não conhecia nem superficialmente o significado das palavras que comumente utilizava. Dizia que o uso delas fortalecia os argumentos, deixava hesitantes seus oponentes e propiciava a vitória em todas as discussões. 

Evidentemente, só discutia com ignorantes.

Certa vez quis me convencer que suco de tomate ficava mais fraco se ao invés de cachaça se misturasse vodka:

 - Bem mais leviano.

 E eu descansei meu caso.

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