Era do tipo que enfiava o cabelo na pia e forjava um bem tomado banho. Um dissimulado!
Comentava a temperatura da água, a mudança de sabonete para um mais áspero e ainda esboçava preocupação que este viesse a lhe causar uma alergia generalizada:
- Ta vendo? Acho que já começou.
E apontava para uma picada de mosquito que ali estava fazia mais de uma semana.
Um dia me apareceu com um sanduíche.
- Olha, amor! Eu cozinhei pra você.
Desde então passou a se declarar Chef em todos os meios sociais que frequentávamos.
- Não é, amor? - Ele perguntava para reforçar o seu discurso. Quem sabe uma testemunha ocular, enfim, afrouxasse a resistência de seu desconfiado público.
- Claro que sim! - Sempre era. Nunca deixei de compactuar com suas fantasias.
Ele tinha mania de linguagem culta. Não conhecia nem superficialmente o significado das palavras que comumente utilizava. Dizia que o uso delas fortalecia os argumentos, deixava hesitantes seus oponentes e propiciava a vitória em todas as discussões.
Evidentemente, só discutia com ignorantes.
Certa vez quis me convencer que suco de tomate ficava mais fraco se ao invés de cachaça se misturasse vodka:
- Bem mais leviano.
E eu descansei meu caso.
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