terça-feira, 8 de novembro de 2016

Carta Para o Amigo Derivado do Amigo Figurante

Uma coisa engraçada sobre conhecer algo/alguém é que, no ato de conhecer, irônica e automaticamente, é gerado um protocolo de desconhecimento sobre aquilo que se conhece, como se o nosso cérebro gerasse uma pasta, a nomeasse, mas faltasse conteúdo para preenchê-la. Em outras palavras, conhecer não passa de uma constatação de desconhecimento. É ser apresentado a uma nova ignorância. E as coisas que a gente não conhece -não que as desconheçamos- apenas não nos damos conta delas, não há pasta para elas e é simplesmente impossível refletir sobre algo que não existe. Só coisas que não existem podem ser pensadas sobre coisas que não existem. Daí a felicidade dos ignorantes, aqueles que não sabem que não sabem, aqueles que não sentem nenhum tipo de angústia em preencher pastas já que elas não estão ali. Não conhecer, portanto é diferente de desconhecer, quase uma coisa oposta, uma vez que esta gera inquietação e aquela, conforto. Isso posto, é justo  lembrar da magia que há em perceber uma coisa nova a ponto de perder o fôlego, uma coisa tão absolutamente fantástica que te paralisa, que te faz pensar sobre todas as outras coisas igualmente fantásticas que você não conhece e que te faz buscar outras apenas para desconhecê-las. Sócrates celebremente disse que sabia que não sabia e eu só posso imaginar a euforia que ele sentiu neste momento:  quando o universo se abriu diante dele e ele se deu conta que todos os não-conhecimentos poderiam ser sintetizados numa única frase, tudo ali, tudo que ele não sabia, todas as verdades ocultas. Imagino ele se olhando no espelho, passeando pela casa de pijamas, repetindo como um louco sua grande descoberta, primeiro baixinho, e depois mais alto, e de repente gritando: só sei que nada sei, só sei que nada sei!!!! SÓ SEI QUE NADA SEI!!!! Percebe? Este homem conseguiu encapsular em palavras todo conhecimento do mundo, das galáxias, do universo, tudo sobre qualquer coisa que vá se pensar e também que não se vá pensar. Uma frase infinita. Um vazio cheio. Tudo em nada. A fusão desses dois mundos estranhos e contraditórios, saber e não saber, não conhecer e desconhecer: é isso que nos move, e esta é a minha forma estranha de dizer: é um prazer desconhecê-lo.